sexta-feira, 24 de julho de 2020

COISAS DE COVID-19: Corona virus e não sou obrigada II. Ivermectina parte 3


Muito longe de esgotar-se o assunto vermífugo para cura de vírus, venho na terceira e última parte dessa série sobre ivermectina. 

Dentre as motivações para a escrita dessa série, foi impulsionador o vídeo de um médico goianiense que proferiu em uma TV local uma ampla defesa - com toda empáfia e ignorância acerca das fases de estudos do medicamento - afirmava categoricamente alguns pontos acerca da ivermectina, pontos os quais não sendo obrigada a ouvir tanta bobagem calada, me manifesto. Naquela coisa né, quem sou eu na fila do pão para contestar um médico? Muita coisa não, nem tenho mídia, nem seguidores, nem paciente, sou uma reles professora! Mas com Lattes validado e real e buscando sempre, na minha atuação profissional pautar-me pelos dados científicos analisados por pares. Licenciada, especialista, mestre. Poderia até dizer que doutora, como uns ministros aí, o que me impede é que fui reprovada na quarta e última fase do processo seletivo, e meu caráter, claro. 
Na conduta médica, acredito que as vezes o médico tenha suas escolhas, seus próprios testes, até porque muitas vezes "ganhamos" amostras de medicamentos e aquilo vai além de divulgação de marca, na minha cabeça conspiradora, pelo menos. Uma coisa é a conduta, outra é fazer "propaganda" de algo que não se sustenta para determinado fim. E é o que ele faz, e tantos outros também vem fazendo e replicando. Quantas mensagens em aplicativo não recebi dizendo que "equipe de saúde de tal lugar indica o kit covid" ou que "limão, vinagre e ivermectina" são a solução? 

Vamos aos comentários sobre as afirmativas do Dr. que, dias depois da entrevista, novamente foi manchete em jornais por seu quadro estar se agravando já que encontrava-se hospitalizado em UTI, pois estava positivo para a doença. Ponderei sobre os comentários considerando ele estar na situação em que se encontrava, mas entendi que falar o que penso não diminui em nada minha solidariedade à pessoa dele tampouco estima de melhoras e a torcida pela plena recuperação. Em buscas sobre o atual estado de saúde do médico, não encontrei nada até o momento da publicação, apenas replicações de sua internação.


Inicialmente na entrevista, o âncora do jornal é direto e após apresentar o entrevistado como médico cirurgião questiona se ele é contra ou a favor do uso preventivo da ivermectina. O médico, replica se quer a resposta como médico ou como paciente. Na cabeça respondi: "Dr. você não foi convidado nem apresentado ao público como paciente, foi convidado e apresentado como médico. Paciente, em desespero por melhoria, por cura, toma até remédio contra indicado!" 

A ancora então pergunta se ele está com a doença, ele confirma, diz que está em quarentena há oito dias e ironiza, num rompante de empáfia e vaidade, dando um tapinha na própria face "e desse jeito aqui ó, na UTI". Em susto o outro jornalista pergunta "O Sr. foi pra UTI dr.?" Em mais uma amostra de superpoderes ele diz :
"Não, claro que não. Tem cento e dez dias que eu venho pregando esse tratamento profilático ai" referindo-se ao TRATAMENTO SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA ALGUMA com a ivermectina. E dando continuidade ao argumento, me deixou perplexa pela primeira vez ao afirmar que conseguiu mobilizar mais médicos da cidade para fazer campanha em favor do medicamento e seu efeito profilático. 

Nesse momento, menciona que mobiliza-se junto a tais médicos em um grupo de WhatsApp e vai ao ponto da má fé ao afirmar que tais grupos tem sofrido censura por parte do STF referindo-se à limite de participantes do aplicativo. Em um misto de falta de conhecimento, alimentado provavelmente por fake news e uma imagem muito enviesada politicamente em relação ao STF, tenta convencer as pessoas que seu grupo tem limite de participantes para frear alcance do conteúdo. Caro Dr. o mínimo que esperamos é informação. Conhecimento articulado também, mas sei que isso não é para todos infelizmente. Desde a atualização de 2016 o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp expandiu sua capacidade de participantes em grupos para até 256 pessoas e o STF não teve e não tem nada a ver com isso: https://canaltech.com.br/apps/atualizacao-no-whatsapp-aumenta-limite-de-participantes-de-grupos-para-256-57445/

Logo mais adiante ele pondera suas afirmativas na perspectiva de "proposição" do tratamento preventivo e de uma "inviabilidade", que nas entrelinhas diz ser política, do uso da cloroquina "a píula do presidente, a píula do Trump" alegando que sumiram e não era encontrada (aliás, cadê o estoque que por ordem do Patropi foi fabricada em larga escala?) e pra não dizer que usei fonte suspeita ta aí, https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/11267194  mas o assunto em pauta ainda não é esse... voltemos.
Ao potencializar um debate político sobre cloroquina, em um graças a Deus, diz que temos ivermectina para fazer esse trabalho e segue com um exemplo bizarro: "temos a experiência da ivermectina que foi usada nos países que tem menor de incidência e índice de letalidade do mundo e é o país mais pobre do mundo, que chama-se Etiópia". À parte a informação não correta de a Etiópia não ser o país mais pobre do mundo, não ocupar o 1 do triste ranking de líder em pobreza, é grotesco 
tentar articular uma relação entre o uso do vermífugo e a baixa taxa de letalidade no país. 

Antes de aprofundar especificamente no país, dentro dos nossos limites aqui, lembremos: o continente africano tem, de acordo com censo de 2016, 1,216 bilhões de habitantes e pretendia até o final de abril fazer 10 milhões de habitantes em todo continente de acordo com a DW News. Desse total da população, 103,6 milhões representava a população da Etiópia, dados também de 2016 disponíveis em busca no Google. Após a primeira morte confirmada por COVID-19 no país, menos de dois mil testes haviam sido realizados em 20 dias depois do primeiro registro. A testagem em pequena escala, sabemos, oculta em muito os dados. Se não testa-se, não há dados consideráveis a ponto de afirmar que as pessoas não adoeceram. Temos aí portanto, uma hipótese que para quem é extremista pode ser conclusiva tanto quanto usar vermífugo é a forma de prevenir. É questão de ponderar conhecimentos e possibilidades: um país pobre, onde parcela ínfima da população é testada, um vermífugo não pode ser associado à "baixa letalidade ou contágio" tampouco considerado como preventivo, como o médico no vídeo faz a associação.

Ele informa que como uma espécie de política sanitária, na Etiópia fazem-se duas vezes ao ano oferta  de ivermectina à população "como um esquema de vacinação" e para tentar dar corpo à sua fala, diz que a OMS, desde 1997 faz a profilaxia com vermífugo no país! Embora não oculte informação de que a ivermectina é aplicada PARA FINS PROFILÁTICOS À PARASITAS, mais uma vez passa a impressão de que busca induzir as pessoas a acreditarem na relação isolada de que a suposta baixa letalidade e incidência de COVID-19 na Etiópia se deve a esse "tratamento profilático" que por lá fazem contra a doença desde 1997, mesmo muito antes de sua existência, quando na verdade o tratamento profilático desenvolvido acontece desde esse ano para controle de doenças causadas por parasitas e não vírus. Ele volta no tempo 23 anos para tentar sustentar seu sofismo!

Enquanto a âncora faz algumas ponderações acerca de grupos que falam em cautela para o uso do medicamento que ainda não tem comprovação de eficácia tampouco conhece efeitos colaterais, o médico faz caras e bocas de negação e de deboche até, inclusive quando esta anuncia que o Conselho Regional de Farmácia se pronunciou e segue-se com a fala de um representante do referido Conselho, que pondera acerca da origem do "boato", do desconhecimento da dosagem para suposta e devidamente atacar o vírus e os riscos em fazer uso do medicamento em seus efeitos colaterais e risco de superdosagem. Volto aqui a um ponto importante: muito dos argumentos usados pelo povo sobre a ivermectina é que não tem efeitos colaterais. Eis uma falácia.

Sabemos que todo fármaco tem efeitos colaterais, e o principal é atacar o patógeno, caso contrário nem se tornaria mediamento, mas que reações adversas destes podem não se manifestar na maioria das pessoas. Entretanto a questão da dosagem é de extrema importância. Nas "receitas" prescritas pelos "médicos" do WhatsApp falam em 1 comprimido para cada 30kg. Lembremos que essa é a prescrição para tratar e prevenir VERMINOSES, ou seja, doenças causadas por PARASITAS. Ademais, os possíveis efeitos colaterais se referem a pesquisas em reações adversas considerando o organismo humano afetado por PARASITAS, e não VÍRUS. Portanto, como ainda estamos em testes experimentais sobre ivermectina no ataque ao Corona vírus não se pode prever efeitos colaterais e reações adversas e dizê-los inexistentes para organismo humano infectado por tal vírus, tampouco a dosagem segura para ser eficaz.

Após a fala do conselheiro, o médico retoma a palavra e reafirma, quase que ignorando tudo o que foi dito anteriormente, que o Conselhos de MEDICINA, dando ênfase a tais, tem dado pareceres favoráveis e cita alguns exemplos, dizendo ainda que não há nenhuma proibição para que prescrevam o medicamento, como se por não haver proibições, todos estivessem livres para prescrever quaisquer coisa que achassem por bem, injeção na testa, por exemplo, mesmo que esta não se provasse possível ou eficaz. Entretanto, na continuidade da fala, mais uma vez fiquei perplexa com o modo pelo qual ele tratou a pesquisa.

Ao cobrar do CRM-GO que deveria dar um parecer a favor ou contra o uso da ivermectina para COVID-19, argumenta que tem liberdade como médico de prescrever, e que se baseia é na sua experiência de 40 anos de prática e diz: "eu tô na ponta, eu não to fazendo PESQUISINHA randomizada não porque não dá tempo, não dá pra esperar um ano pra ficar pronto não, assim como a vacina que não vai ter esse ano não, esquece. Esquece. A vacina se chama-se ivermectina".  Enquanto ainda me recuperava do susto com a 'pesquisinha' levei outro com a afirmativa 'a vacina é ivermectina'... foi até difícil processar na hora, tamanho meu estarrecimento.

Para quem não sabe, tudo, absolutamente tudo passa por pesquisa. Logo também, e graças à métodos, metodologias e protocolos altamente sérios, todo medicamento passa por pesquisa randomizada e é aviltante alguém que deveria se basear na ciência séria, que tem por base de sustentação a pesquisa, jamais poderia referir-se pejorativamente a essa importantíssima base. Com todo respeito a quem não teve oportunidades, não é o vendedor de picolé com a primeira fase do ensino fundamental incompleta que menosprezou dessa forma a pesquisa não. Foi um médico. Um médico com 40 anos experiência, gente! E que como ele, sabemos que tem mais. Os 40 anos de experiência, inclusive a possibilidade de prescrever o medicamento que quiser, só foi possível graças às pesquisinhas!

E aí né, para finalizar o trecho, conclamo a ordem do 'doutor' de esqueçamos vacina esse ano! Pra quem não dá crédito à pesquisa, vou dizer o que? O cara invalida pesquisas. Logo, vai afirmar sempre com toda empáfia e razão desrazoada  que vermífugo é vacina para vírus com a fé em Deus e só.



Links úteis:

O vídeo:
https://youtu.be/X8a2hpJxHSI

Algumas leituras interessantes:

http://revista.fmrp.usp.br/2009/vol42n1/Simp_O_que_e_um_estudo_clinico_randomizado.pdf












terça-feira, 21 de julho de 2020

COISAS DE COVID-19: Corona vírus e não sou obrigada III - Ivermectina parte 2.

Dando continuidade à série, retomo as impressões acerca dos "tratamentos" sem nenhuma comprovação científica da COVID-19.

Eis então que na corrida pela prevenção, tratamento, cura, vacina contra a COVID-19, vimos que, pelo menos 153 medicamentos estão sendo testados mundo a fora após estudos pré-clínicos, ou seja, na fase experimental do potencial de certo fármaco afetar CÉLULAS ISOLADAS e da Ivermectina ser apontada como apta a seguir a demais fases pré-clínicas. 
Portanto, lembremos: Existem estudos experimentais, ou pré-clínicos e só depois deles, os estudos clínicos, onde os potenciais medicamentos para x doença são testados em grupos de humanos.
O infográfico abaixo dá uma ideia de como chegaram-se à essa conclusão para dar "carta branca", avisar que não era total perca de tempo e investimento, continuar na próxima fase de estudo sobre ivermectina x corona vírus, por exemplo. 



Até o momento, pelo que consta, embora não muito promissor, o medicamento vermífugo avançou, segundo o PhD em farmacologia Thiago de Mello (Lattes não encontrado),  para 26 estudos clínicos, ou seja, para testagem em humanos acometidos pela COVID, mas ainda não em fase avançada e com nenhuma comprovação de eficácia, portanto. Assim como tantos outros medicamentos os quais cita aqui https://www.ictq.com.br/guia-de-carreiras/1695-phd-em-farmacologia-analisa-as-terapias-em-teste-para-covid-19.

Entretanto, a fase experimental, pré-clínica, da aplicação do vírus em células, o estudo in vitro, que revelou a possibilidade foi suficiente para gerar toda uma cadeia de "ivermectina previne, cura, trata," e, pasme, nas palavras de um médico goiano, "é a vacina". 

Muito ouvi de muita gente embalada por supostos discursos médicos que circulam na internet e na imprensa geral, que tomar ivermectina era uma forma de prevenir a COVID-19 e que não tinha nenhum problema, que não causa efeitos colaterais, que tem médicos que prescrevem para tratar (e tem mesmo) e acabam por deixar de lado as evidências científicas, a formação baseada em evidências e quiçá a comunidade acadêmica por pura empáfia! 

Tais informações que são mais boataria do que informações, somadas ao desespero de quem adoeceu, de quem suspeita estar doente, de quem não quer correr o risco de adoecer e a facilidade que temos de sermos levados no bico, ignorando  conhecimentos básicos que deveríamos dominar pelo menos nas situações quando estamos totalmente envolvidos, faz com que muita gente, entre na onda e tome medicamentos sem nenhuma ideia de riscos ou de que só tomam por "descargo de consciência" (só pra fazer trocadilho entre tomar antiparasitários e possíveis efeitos colaterais voltados à desarranjos intestinais). Nesse contexto, até mesmo aqueles que deveriam muito pautar seus atendimentos baseando-se nas evidências, incluo aqui médicos, enfermeiros, farmacêuticos entre outros apresentam tendências para jogar fora todo o processo das evidências científicas para que um fármaco, novo ou já em circulação, seja indicado de modo seguro para uso em determinada finalidade, diferente da finalidade a qual foi aprovado bem como dos longos processos para sua aprovação. Toda essa "fofoca" como já pontuei, foi suficiente para vermos uma corrida insana pelo medicamento nas drogarias, semelhante ao fenômeno cloroquina, da qual talvez falarei, mas que pra mim, já deu, embora vira e mexe uma cópia de "Patropi" continue fazendo publicidade sobre ela. 

Nesse sentido, o recado principal dessa segunda parte é que, em associação à primeira, lembremos: raramente um antiparasitário será eficaz contra um vírus. A possibilidade de eficácia de ivermectina para COVID-19 não é comprovada pois não há ainda estudos clínicos que comprovem. Embora um "muntuêro" de gente, inclusive médicos, prescrevam o uso, estão se pautando numa remota possibilidade, num "vai que cola", para uso do medicamento. 
Nesse sentido, pensem comigo: até o momento é sabido que a transmissibilidade do vírus é alta, que medidas de distanciamento social e uso de EPI's diminuem a possibilidades de contágio e circulação do vírus, que não existe vacina e nem tratamento eficaz, e ainda que, há pessoas que portam o vírus e são assintomáticas, outras que apresentam sintomas leves, uma parcela menor que apresenta sintomas graves e outra, não menos significativa, mas menor, vem à óbito. Com todo respeito às vitimas da COVID-19 e solidariedade aos familiares e amigos me faz lembrar uma frase que vi nas redes sociais esses dias, cuja autoria não identifico mas que dizia assim: "quanto menor a letalidade de uma doença e maior sua taxa de remissão espontânea, mais provável é que tratamentos ineficazes sejam vistos como salvadores". Ou seja, a remissão espontânea, o fim do "ciclo" do vírus no organismo - também não muito conhecido - faz com que muitos acreditem que quem curou foi o medicamento. Só pra ilustrar uso a dengue clássica: não tem vacina, há medicamentos muito contra-indicados, o tratamento é  feito a base de repouso, hidratação, antitérmico e analgésico, quando temos nos sentimos muito mal e em alguns dias há remissão espontânea. Mas haverá quem diga que sarou porque comeu inhame! 

Para quem se pauta nas evidências científicas avançadas, nas pesquisas, na busca por informações e na articulação dessas ou somente nos conhecimentos básicos adquiridos na escola fundamental, tem a faca e o queijo na mão para tomar suas próprias conclusões. Mas para quem ainda gosta de explicar o som do trovão como Thor batendo martelo no Olimpo, cai bem... 


quinta-feira, 16 de julho de 2020

COISAS DE COVID-19: Corona vírus e não sou obrigada - II: Ivermectina parte 1.

Desde o início da pandemia tenho reconhecido mais ainda meus privilégios e pensado muito sobre a trajetória de vida que tive, as oportunidades, e, lembrado bem que na minha identidade de classe trabalhadora, fui privilegiada por não ter de assimilar estudo e trabalho, pois meus pais, diferentemente de muitos pais dessa classe, me proveram condições materiais para apenas estudar na infância e adolescência. Oportunidade que sei que não é para todos. 

Hoje, olhando a trajetória acho que fiz bom uso da frase que sempre pais que conseguem garantir aos filhos o estudo sem trabalhar proferem, ordenam: "você não faz nada, estão estude". Não que fosse a top das top, a nerd, mas acolhi bem muitas aprendizagens básicas que hoje vejo faltarem absolutamente em muita gente. Talvez nem faltaram, talvez muitos quiseram mesmo foi deletar e abdicar de seu próprio pensamento porque é bem mais fácil botar fé na corrente de WhatsApp do que se lembrar do básico da escola, que em tese, e a meu ver, parte síntese, cumpre pelo menos parcialmente o papel de transmitir para fins de assimilação o conhecimento científico sistematizado produzido pela humanidade.

Nesse sentido, me lembro, as vezes em flashes, de momentos da escola primária quando, ainda os estudos de "ciências", ensinavam-se sobre as doenças causadas por vírus, bactérias, parasitas. Guardo na memória imagens de um livro de ciências da 2ª série em que, caricaturalmente, um brejeiro ia próximo a um rio defecar e suas fezes contaminavam a água, gerando patógenos e onde aparecia por exemplo o ciclo de vida de parasitas, que faziam depois aquele mesmo brejeiro, familiares e outras pessoas, vítimas de alguma doença, de alguma verminose, que no caso específico me deixou totalmente encabulada porque causava "barriga d'água". Mais tarde, na "ciências" da 6ª série aprendi que aquela doença se chamava esquistossomose, que as condições sanitárias precárias e a falta de água potável agravavam o problema, e aí já tinha algumas condições para compreender que o saneamento básico era uma das formas profiláticas de conter a doença e que também, havia tratamento medicamentoso para grande parte das doenças parasitárias, algo que foi bastante aprofundado lá no Ensino Médio. Inclusive deu até pra compreender que "barriga d'água" não era coisa de gente da roça, mas que na cidade, com a ineficiência de governos em garantir e potencializar saneamento básico, fazia com que também na cidade os perigos das doenças parasitárias fosse iminente, principalmente para a parcela menos ou nada privilegiada que eu da classe trabalhadora.



Esses conhecimentos básicos, que todo aquele que frequentou a escola, em condições mínimas asseguradas para uma boa aprendizagem, também sei que parcela inferior que gostaria, me fizeram entender que existem diversos microrganismos e diferentes formas de auxiliarem ou atacarem o corpo. E lembrando também desses conhecimentos básicos, aprendi lá que o corpo se forma meio que gradualmente, de células que formam tecidos, que formam órgãos, que formam sistemas e que, por fim, funcionando juntos, fazem o 'corpo' funcionar. 

Essas memórias vieram muito à tona desde as primeiras semanas após o anúncio da OMS acerca da Pandemia causada pelo Corona vírus "versão 2019" e da corrida por tratamentos eficazes contra a doença em seu potencial de morte, grande disseminação e sequelas mesmo em suas formas mais brandas. Muitos de nós sabemos que não existe nada comprovadamente seguro e eficaz de fato, seja para prevenção ou tratamento da doença causada pelo vírus, a COVID19 e suas apresentações clínicas.

Entretanto, vimos na corrida por algum tipo de tratamento despontar-se especulações, teorias conspiratórias e até campanhas em favor de alguns medicamentos que, em hipótese, poderiam trazer algum benefício. Contudo, não chegamos ainda a nenhuma conclusão, a nenhuma evidência científica de fármacos nem para prevenir, tampouco imunizar ou tratar a doença em seu núcleo.
Sabe-se que a doença é causada por um vírus, organismo que lá no ensino fundamental e médio aprendi que se difere em ação, anatomia e fisiologia de outros organismos como vermes, bactérias, fungos... há obviamente outros aspectos que um especialista nessa área poderia pontuar bem melhor, mas que é, no limite, suficiente para a discussão aqui em pauta.
Ao considerarmos o vírus e sua estrutura, aprende-se que antivirais são os principais medicamentos que atacariam e venceriam algum vírus e também que, raramente teremos um medicamento antiparasitário, anti verme eficiente no combate do organismo viral, bem como antibióticos - apropriados para combater doenças bacterianas...

Contudo, em hipóteses, o raramente entrou em ação, e na corrida por cura, tratamento ou prevenção da Covid-19 alguns medicamentos começaram a ser testados no mundo todo, e parte deles apresentou indicativos para continuidade nas pesquisas.
Normalmente, a partir de hipóteses iniciam-se fases de testes para quaisquer medicamento passa a ser estudado, havendo um protocolo a ser seguido. Numa fase inicial é feito um estudo experimental, pré-clínico, com testes em células isoladas e posteriormente em animais de pequeno porte; depois em animais de porte maior; depois em um pequeno grupo de humanos; depois em um grupo maior... sempre testando as evidências até chegar-se a um parecer para eficácia, segurança na dosagem, efeitos colaterais etc. Entretanto, chegam-se a testes em animais mesmo de pequeno porte somente se no primeiro momento, na aplicação do fármaco em células isoladas o mesmo apresentar algum efeito. É o que se chama de teste in vitro.

E aí, demorou mas chegou: entramos na ivermectina! Dentre 153 medicamentos que estão sendo testados no combate à Covid-19 a ivermectina foi um dos que apresentaram potencial para continuidade nas pesquisas após ser aplicada em célula infectada com corona vírus e, em 48h reduzir em 97% sua carga viral. Entretanto, cabe ressaltar: o estudo é pré-clínico e só é válido para não excluir-se a ivermectina da lista de medicamentos completamente ineficazes, dado que esses, que nem reduzem carga viral e são excluídos da lista de possibilidades. É como se fosse um indicativo, continua aí vendo nas próximas fases, talvez funcione! Eis que o talvez é o divisor de águas.

A possibilidade apresentada pelo estudo pré-clínico virou quase fofoca: de uma "carta branca" para continuar na fase pré-clínica, passando a testar o medicamento em animais de pequeno porte, só porque o medicamento já é utilizado e comercializado para PARASITAS, numa dosagem específica para PARASITAS, os "fofoqueiros" já saíram aumentando a história, concluindo que a ivermectina é eficaz para prevenção da Covid-19. Olhe lá: de uma carta branca para continuidade de pesquisas já se pulou para "ela previne, ela trata, ela cura".

A crença é tão forte que a procura pelo medicamento cresceu exponencialmente em várias cidades brasileiras como é possível confirmar em buscas simples nas mídias e até mesmo em nossos grupos de conversas - espero que todos como os meus, de forma remota, ainda mantendo o necessário distanciamento social. As alegações inúmeras e argumentos perpassam por "médicos estão indicando" e "não há efeitos colaterais graves".

Tais argumentos ficarão para a parte seguinte dessa série, onde continuarei a partilhar minhas impressões e considerações, porque não sou obrigada né!

Alguns links interessantes para leitura:


http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/esquistossomose

https://saude.abril.com.br/medicina/no-mundo-todo-153-remedios-sao-testados-em-pacientes-com-coronavirus/

https://www.inca.gov.br/pesquisa/ensaios-clinicos/fases-desenvolvimento-um-novo-medicamento

https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/vermes.htm

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/04/04/cientistas-acham-remedio-em-testes-que-mata-coronavirus-48h-apos-infeccao.htm








terça-feira, 14 de julho de 2020

Coisas de COVID-19: Corona virus e não sou obrigada - I

Desde que foi comunicada às autoridades competentes o surto de Corona vírus em sua versão 2019 muita coisa tem ficado por esclarecer, outras por dizer, dado que me calei demais nos últimos anos, principalmente por aqui. O exercício será retomado e minhas conjecturas serão publicadas assim que a vontade de "falar" vier e eu quiser usar meu espaço para isso.

Com todo reconhecimento à ciência, aos cientistas, pesquisadores do mundo todo em todas as áreas de conhecimento peço licença para em alguns momentos recorrer ao básico, ao fundamental mesmo, as vezes em sentido literal referindo-me a etapa de ensino. Outras vezes usarei os dados maiores, com todo respeito à memória dos que perderam a batalha para a doença.

De tanta coisa que nesses mais de 4 meses de pandemia algumas me deixaram com vontade grande de expor meus pontos de vista, minhas correlações e percepções. Um cata aqui cata acola de informações, opiniões alheias, falas irresponsáveis de pessoas que quando pensa-se um pouco fora da caixa, vemos pelo em ovo.

Sobre uma suposta culpabilização da China a cerca da pandemia, ideia difundida inclusive por chefes de estados líderes em número de infectados, EUA e Brasil, muita gente, querida até entrou no discurso e, ao sentar sobre o próprio rabo proferiu coisas do tipo 1. "querem dominar os mercados"; 2. cancelem a China"; 3. "comem tudo que é bicho vivo"; 4. "Criaram o vírus em laboratório" e  5. "esses comunistas!"... e outras mais que não tão repetidamente ouvimos nesse contexto, mas que ouvi muitas vezes calada para não cansar a beleza mesmo! Aqui não mais, digo: 1. Não, a China não quer dominar os mercados. Já estão dominando. há um bom tempo são uns dos que dominam. Desafio os que '2' dizem o "cancelem a China" se cancelarem, se desfazerem da infinidade de itens domésticos, eletrônicos, vestuário, artigos de lazer MADE IN CHINA de suas vidas! E o desafio vai além para que cancele mesmo então e pare de comprar produtos da China. Duvido fazerem e até imagino alegarem "to brincando". Eu não. Tanto que quando ouço o 3 me dá nos nervos saber que gente que come tatu, capivara, javali, coelho, paca enfim, inúmeras espécies animais vendidos como exóticos no mercado LEGAL, mas que sabemos que, ilegalmente, temos a caça para consumo dessas espécies, obviamente sem inspeção e atestado de "segurança alimentar". Quero nem comentar sobre leis que beneficiam "caçadores esportivos" em curso no governo atual, tampouco que esses mesmos são grandes propagadores da "3. comem tudo que é bicho vivo". Pensamento em cadeia aqui: alguns acham que catar um tatu no mato e comer é diferente de caçar um pangolim. E no ataque ao que come pangolim, senta no rabo e faz questão de esquecer que apóia certas políticas que flexibiliza a caça de animais silvestres, muitos até em risco de extinção. O 4, aff, é o melhor que se tem a dizer. Porque ao buscarmos saber a fundamentação voltamos ao 1. e pulamos para o 5, com leve alteração "porque são comunistas"... E ai né, quando a gente faz qualquer alerta, a 5, inicial, "esses comunistas" entra em vigor, usada por gente que não sabe nem a origem etimológica da palavra comum, algo que se aprende lá no ensino fundamental, na primeira fase ainda...


Nesse sentido, a primeira postagem da série "Coisas de COVID-19" me permito a responder algumas coisas porque não sou obrigada a ouvir e ficar calada.

Por aqui fico, lembrando que há mais entre um pescoço e um umbigo do que supõe um cabeça oca, implanto a dúvida: quem sabe a culpada China teve mesmo foi a decência de avisar, talvez até por ter perdido o controle, que havia um surto epidêmico de corona vírus, algo que outros, deixaram passar, não viram, não se ligaram no que poderia estar acontecendo, não inspecionavam mercados de peixes vindos de águas quiçá contaminadas... pode haver mais coisas do que afirma o tiozão do Zap. Mas garanto, vão muito além de umas 5 frases em caixa alta que te pedem para compartilhar pra salvar o mundo dos comunistas. 

Conteúdos similares sobre "origem" do vírus e as novidades:




https://www.bbc.com/portuguese/geral-52506223






quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Alemanha II - O que fazer em Frankfurt em dias de verão

A viagem, a chegada e os trâmites da mencionados aqui https://quandoescrevoeuescrevo.blogspot.com/2019/06/alemanha-i-preparativos-viagem-de-ida-e.html , acreditem, leva a um cansaço estupendo... mas um cansaço na Europa! 

No dia seguinte à chegada respirar os ares de novidade deixava encantada e claro, curiosa. Quando o boy foi me buscar no aeroporto eu sabia que utilizaríamos o transporte coletivo, mas não pensei que seria tão tranquilo e agradável. O sistema de transporte em Frankfurt, pelo menos na minha condição de turista, avalio como excelente.
Pelo dia, pagava 5,10 euros na passagem que dava direito a uso por toda extensão de Frankfurt em linhas alimentadoras e trens. Portanto, um ir e vir bem facilitado.
No dia seguinte à minha chegada, ansiosa para conhecer a cidade, começamos por um tour no Höchst, um bairro mais afastado do Centro, há poucos minutos da Estação Central, e a uma estação de Unterliederbach, onde meu esposo residia. Em Höchst, cuja pronúncia até hoje não sei, há um centro comercial bem interessante, restaurantes diversos, bancos e descobri também, em outro dia andando por lá, uma espécie de parque às margens do rio Main e também um forte, com mirante para o leste e outros simpáticos restaurantes.

Nesse primeiro tour pelo bairro, já aproximada a hora do almoço, embora com cinco horas de diferença, eu já estava bem esfomeada, adentramos a um simpático restaurante flutuante de gastronomia local e peixes, se não me engano. Digo que estreei em grande estilo: prato de 14 euros que veio a ser inclusive meu preferidinho em todas as suas variações... Schintzel! 

nota restaurantes: preços justos, não exorbitantes pelo que oferecem.  

 Fizemos um rolê pelas ruas centrais e às margens do rio Main, e em detalhes e fotografias, exponho alguns pontos.
Ps.: Fotos de dias diferentes nos locais mencionados.

 Impressionada com as canequinhas das lojas de 1 Euro do Höchst.
 No restaurante Flutuante, cujo nome não sei...  O Rio Main na região onde o restaurante é ancorado.

A parte do Forte, com o farol ao entardecer e sua encantadora iluminação após o por do sol.






Mais adiante nos dias que se seguiram passeamos pelo Main nas tardes de verão, onde o calor é escaldante e os sorvetes de avelã são maravilhosamente deliciosos! O ritmo é frenético, as pessoas andam pelas ruas com roupas leves e curtas e o mais interessante: quando vemos algum olhar malicioso lançado às mulheres com vestuário mais à vontade, a cara do indivíduo conta que ele é estrangeiro! Pelo menos no quesito vestimenta, pude observar que as mulheres são respeitadas e não é porque usam shortinho curto, blusinha fina sem sutiã que "estão clamando por atenção e pedindo para serem assediadas". Hey Brasil!!! 






Pelas ruas do Centro Antigo, em alemão soa mais bonito, pegando à esquerda da estação central tem-se a visão de uma Frankfurt de casarões de pedra, estátuas, fontes e igrejas além de uma infinidade de lojas de souvenirs, sorveterias, bares e restaurantes, cujas áreas externas, de visual agradável e vento fresco, são destinadas à fumantes! Era uma luta sentar nelas, muitas vezes locais agradáveis mas ter que engolir sem reclames por ser espaço onde se pode fumar. Geralmente em dias de rua, almoçávamos ou jantávamos uma massa ou em quiosques de comida asiática. As massas, eu geralmente pedia um carbonara ou pizza, ficavam em torno de 7 euros e as porções, no geral, eram muito bem servidas. A pizza, na maioria das vezes, em torno de 5 euros é meio diferente daquilo que conhecemos como pizza: continua redonda, mas com mais molho e recheios parcos, o lance maior é o sabor massa e molho. A primeira vez o susto que fica é o costume de pedir uma pizza e aparecer um prato na sua frente com a pizza inteira para você comer sozinho! Nos quiosques de comida asiática, geralmente pedíamos ao estilo "China in box" o carboidrato, a proteína e o molho. Com em média 6 euros, uma caixa vinha comida suficiente! E dependendo de alguma guloseima ingerida tempo antes, sobrava arroz, que de tão gostoso, a gula as vezes não deixava sobrar. 




domingo, 23 de junho de 2019

A língua é o bacalhau da boca

Quando criança ouvia muito minha avó materna dizer que a "língua era o bacalhau da boca" e sempre que ela dizia isso, contava alguma coisa que me fazia entender que o que ela estava dizendo era que o que estragrava muita gente eram as palavras ferinas e o quão hipócritas as pessoas podiam ser. Se vovó estivesse por aqui ainda, hoje ela talvez tivesse que dizer que o bacalhau passou a ser os dedos, dada a facilidade de as pessoas utilizarem seus dedos ferinos para estragar suas imagens diante de milhares nos palcos das redes sociais.

Hoje pela manhã me atentei a uma publicação do jovem estudante Mateus Ferreira, que em 2017 foi brutalmente violentado por um policial militar em um dos protestos realizados contra a reforma da previdência no final de abril daquele ano. Não o conhecia, mas fiz parte da sua luta, sofri com amigos meus que o conheciam e me indignei com o Estado e seus defensores da Polícia Militar que em diversas ocasiões já vi exercerem sua torpe e criminosa "autoridade". 
O movimento estava grande e cresceu ainda mais quando todos se encontraram no cruzamento da Av. Goiás com a Anhanguera. 
Mateus Ferreira era um manifestante como eu que foi às ruas acreditando na resistência e na organização da luta popular em defesa da classe trabalhadora e de um país mais justo... já passava do meio dia e evadi do local poucos minutos antes de a Polícia transformar aquele espaço em uma praça de guerra, quando já iniciara o trabalho de dispersão de manifestantes com bombas de gás. A sensação que tenho em todo manifesto é essa: o protesto só dura até quando a Polícia permite... logo passam a fazer cordão de isolamento, a esconder atrás do escudo e fazer os ânimos se exaltarem pelo cerceamento e jogam bombas e atiram com o que dizem ser bala de boracha... como se não fossem capazes de ferir!  
E no meio da multidão que se dispersava das bombas, Mateus, ao correr foi surpreendido pelo insano, raivoso, criminoso cacetete  do capitão Augusto Sampaio (os adjetivos empreguemos a quem se deve). A força do golpe foi tamanha que Mateus ficou onze dias na UTI e precisou fazer cirurgias para reconstituição facial!
À época, assustadoramente, algumas pessoas buscaram justificativas para o ato criminoso do capitão, imputanto ao jovem agredido que quase perdeu a vida uma culpa: ser manifestante e merecer por isso. Estarrecidoramente, haviam pessoas que faziam piadas, celebrando ao cacetete, lamentando que ele tivesse se partido! Enquanto riam disso, um jovem estava na UTI com o crânio fragmentado, uma PESSOA, um SER HUMANO. E mais terrivelmente, alguns tentavam justificar o fato com a alegação de que o manifestante era um vândalo que quebrara vidraças... vidraças... e vejam o bacalhau das bocas ponderando: não se podem quebrar vidraças, mas crânios sim! Era assustador o caso. 
Enquanto vibrações inúmeras eram enviadas a Mateus e o caso recebia certa repercurssão pelo país, aguardávamos uma posição do Estado. O capitão foi então afastado das ruas (não da corporação) designado a trabalhar no administrativo enquanto andavam-se as investigações. A própria Polícia identificou excesso, o Ministério Público, idem, e o capitão passou a ser investigado por lesão corporal gravíssima e abuso de autoridade... e parte da sociedade, não insandecida, ainda lúcida e que não espera ver aplicada no outro toda violência que o ser humano é capaz, aguardava o desfecho do caso e a justiça sendo feita.

Eis então que essa semana Mateus e todos nós que esperávamos por justiça levamos outro golpe. O atual governador do Estado, Ronaldo Caiado, promoveu o Capitão a Major da corporação. A nós ficou clara a mensagem: a polícia está acima da lei e policiais de má conduta são premiados, condecorados sem o mínimo constrangimento. Em alguns comentários acerca do caso em suas redes sociais, Mateus pontuou inclusive que o governador ignora os trâmites para fazer tal promoção, haja vista que policial que enfrenta algum processo, não pode ser promovido. A promoção além de imoral é ilegal, e no Goiás, que parece terra sem lei, centenas de pessoas voltam a atacar Mateus mais uma vez, fazendo seus grotescos, doentios e fascistas comentários.

Em seu grito de indignação, o estudante desabafou nas redes sociais e foi alvo dos ataques ferinos dos donos de bacalhaus nas línguas e nos dedos. Queiram ou não, bacalhau cheira mal. E muito, tal como muita gente que senti nos comentários cheirarem. Estão aprodrecidas, apodrecendo... e pior, entre elas, algumas que conheço ou conheço gente que conhece. Gente que professa uma fé cristã, mas uma fé cristã das vagabundas, sabe? Daquelas que se Cristo chegar de uma vez, capaz nem ele suportar sem fazer a pessoa passar vergonha. 
Me pergunto o motivo pelo qual as pessoas tem a necessidade de atacar quem já passou por um ataque assim... que motivo as pessoas tem para defender o Estado, o governador que concedeu a promoção e para parabenizarem o agora Major sabendo que o que ele fez não é, em tese, o papel da Polícia. Queria entender o motivo pelo qual as pessoas continuam atacando Mateus e fazendo questão, na página dele, de exaltar Sampaio e seu criminoso cacetete! Essas pessoas, hipocritamente são daquelas que muitas vezes falam que o mundo precisa de mais amor, mais de Deus... 
As vezes penso que essa gente tem amor por bandido! Mas um amor seletivo por bandido. Alguns bandidos que escolhem amar e defender, outros que desejam a morte. E numa proporção descabida, uma visão torpe da dimensão dos crimes. Afinal, vangloriam  o criminoso que espatifa o crânio de alguém e execram um que espatifa uma vidraça, pixa um muro ou rouba um vidro de azeitona! 
Não é a primeira vez nem será a última que veremos gente revelar sua podridão pela boca, ou pelos dedos ferinos... Gente tarada que ama mais parede, cacetete ou propriedade do que gente! Gente doente, injusta, gente fascista.




Alemanha I - preparativos, a viagem de ida (e volta) e dicas dispensáveis.

Embora retardadamente aos fatos, iniciarei hoje uma série de memórias acerca de breve experiência que tive no ano de 2018 durante parte do verão e inverno na Alemanha.

SPOILER: falo nada de importante aqui. É mais uma introdução que em três linhas dava para resumir. Há o relato inicial, uma ou dias dicas e meus anseios e receios com a viagem.

Os preparativos para a viagem começaram ainda em 2017, quando meu esposo foi selecionado para o programa de intercâmbio de doutorado sanduíche naquele país e para lá se mudou por um ano, ficando eu no Brasil.
Inicialmente retomei as aulas de inglês, para que meu inglês tupiniquim desse pelo menos para o essencial aeroportuário e afins! 
Logo a parte burocrática de Polícia Federal, passaporte, informativos a cerca de cartão de vacinas, visto, regras, documentação e etc. 
Eis então, duas surpresas que para essa viagem, facilitariam alguns trâmites: 
Legalmente, sem visto você pode viajar para a Alemanha e lá permanecer até 90 dias no decorrer de um ano. Como em minha primeira viagem ficaria 41 dias, não precisava me preocupar com esse aspecto e foi também uma alívio saber que não precisaria de uma peregrinação para descobrir onde estaria meu cartão de vacinação, hava vista que à época, era dispensado a apresetação dele para adentrar ao país. 
Seguiu-se daí a procura por passagens aéreas, processamento de datas, organização financeira, adequação do casamento à distância (meu deus, eu passei por isso e sobrevivi), enfim, a parte prática da viagem: compra de passagens, roteiros de onde ir e do que fazer, onde hospedar durante as viagens internas que faríamos, quanto gastar, quanto comprar de Euro, quanto o cambio era cruel nas oscilasções, efim! 
Imaginem só a aflição para encontrar bons preços para viagem em período de férias escolares no Brasil, a ansiedade de rever o marido, de ir só em uma viagem longa, de não ter domínio da língua inglesa e não saber absolutamente nada de alemão a não ser entender que algém disse oi, tchau, não, sim e obrigado! (uau, sobrevivi bem a isso também). 

Após encontrar a passagem e marcar a data da viagem, cuja dica de ouro é fazer buscas com  bastante antecedência para inclusive sacar as oscilações e os menores valores praticados para não esperar por algo surreal, sendo importante também ter certa flexibilidade para dias de ida e volta, em 27 de junho de 2018, iniciei a jornada rumo ao Velho Continente.  

Embora houvesse toda tensão de viajar, sobrevoar o oceano, ficar 12h  em um único trecho, pensar como ocupar o tempo enquanto isso, pensar como vai ser lá, como está sendo em casa, enfim, toda a ansiedade que a situação de chegar em um país desconhecido, não sabendo o idioma local, tendo dificuldades no inglês, não sabendo ao certo como seria na imigração, na entrevista, efim, o rumo ao desconhecido, o "se joga", me deixava animada! Animava também pensar que havia feito a melhor escolha de trechos, haja vista ter usado (outra dica de ouro) buscar por voos diretos. Como meu esposo esposo nessa época já estava em Frankfurt, nada melhor que o voo direto Guarulhos Frankfurt. (Outra dica) Também é interessante  buscar companhias que tenham autonomia nos trechos e não necessite operar em parcerias. Na ida em junho com voo direto pela mesma companhia, seja no doméstico Goiania/São Paulo ou no internacional São Paulo/Frankfurt, me senti mais confortável e tranquila do que na volta, em agosto num primeiro trecho, de um voo não direto para o Brasil e operado por uma companhia diferente. 
Na volta sai de Frankfurt para Londres em companhia local que faria a operação do voo e vi que tudo acontece com outra organização que me deixou um pouco confusa, até porque, os espaços destinados à embarque e desembarque em cias. diferentes, são distintos. Outro ponto é o processo de deixada do país: deixei Frankfurt e passei pela imigração, cheguei em Londres tive que fazer entrevista para avisar que estava só em trânsito pelo aeroporto (fui bem recomendada que tinha que deixar Londres até a hora do meu próximo voo), tive que pegar as bagagens, fazer um mega tour com elas até chegar no embarque internacional e fazer novo despacho. 
Enfim, a experiência serviu para dois aprendizados: comprar passagens com a mesma companhia operando os voos ou comprar com intervalos de embarque maiores para que (tenha tempo de dar mancada) não precise apavorar-se receando atrasos. 

Enfim, após sair de Goiânia por volta de 12h, cheguei em São Paulo fiz uma visita a meu irmão, cunhada e sobrinha enquanto aguardava o voo para Frankfurt, que só saia proximo da 00h. Durante o voo foi tudo tranquilo, companhia aérea latina, com português como primeiro idioma para deixar o frio na barriga da imersão em outro idioma para mais logo. Chegando à Frankfurt, na imensidão daquele aeroporto, demoramos uns 25 minutos entre pouco e parada da aeronave. Desembarque, depois de "aceppt" alguma coisa escrita em alemão acerca da rede wifi local contatar aos familiares e encaminhar para a imigração. A fila estava longa. Enquanto isso, eu, que vivia assistindo programas de TV sobre aeroportos e tretas em que a polícia observava à paisana os transeuntes, esperava pensando que via várias vezes nos programas a polícia abordar pessoas que viajavam sozinhas e tinham atitudes suspeitas, se eu estava tendo alguma atitude suspeita! E já imaginava, ansiedade das brutas, se algum agente me abordasse e eu não sabendo falar alemão nem inglês direito... e a fila ia... Até que chegou minha vez e me encaminhei ao guichê, insegura, mas respondendo ao agente a saudação em inglês já indicando que não falava alemão! Queria ter dito isso em alemão... mas o treino não foi suficiente para eu soltar um sonoro "entschuldigung, ich spreche kein Deutsch"... simplesmente não sai até hoje! E então, respondendo à breve entrevista, engasgando com questões sobre a volta (pega de surpresa com a pergunta sobre os trechos de volta) e admirada com a educação, cuidado e paciência do agente (aliás, nas estadias pelo país me caiu por terra aquela história da grosseria do alemão), vi meu passaporte sendo carimbado e eu ser saldada com um bem vindo na língua local! 
Daí, a essa hora já explodiam em mim duas partes: o coração, em rever em alguns minutos meu esposo e a bexiga, cheia, pela ansiedade e pelo tempo de fila. 
Na saída do embarque lá estava ele (me aguardando com chocolate e girassóis, metira!) me aguardando já há algumas horas e também cheio de saudades. Encaminhamos para casa ele já fazendo as vezes de anfitrião e me dizendo coisas básicas para saber sobre o trasnporte coletivo e mostrando alguns pontos entre o aeroporto e a casa onde residia. 
Lá chegando, morta de cansaço pela extensa jornada, tomei um banho, deitei e dormi um pouco, enquanto aguardava-o preparar o jantar e já bastante admirada pelo adiantado da hora e o sol brilhar como se fossem quatro da tarde...

Mal sabia que ainda teria um bom pedaço de noite sob a luz do dia e um belo por-do-sol as 22h e que isso seria providencial para aproveitar ao máximo os próximos 39 dias ao lado de meu bem...


sábado, 15 de junho de 2019

À César o que é de César e a Rhuan o que é de Rhuan


              Há umas três semanas me foi, terapeuticamente, dada a tarefa de retomar os escritos por aqui. Os planos vão de vento em popa. A efetivação é que ficou travada e retomo hoje, a exteriorizar aquilo que retenho sobre diversas causas. E isso, também acabou se tornando uma dificuldade, haja vista, a grandeza de coisas que me afligem e que tenho retido, principalmente pela velocidade com que acontecem. É como se, em cada turno, pelo menos um 7x1 diferente tivesse que ser processado (embora eu confesse, ter me divertido com aquilo)  que mal dá tempo de processar e já aparece outro.

Essa semana me chamou bastante atenção o terrível caso do gatoro Rhuan Maicon, brutalmente assassinado, esquartejado e queimado na tentativa de ocultação de cadáver. Me assustaria muito mais se as pessoas achassem normal. Com todo respeito póstumo a Rhuan e aos familiares que se importavam com ele, as pessoas passariam a achar normal tal atrocidade se Rhuan fosse um pouco mais velho e tivesse se tornado criminoso, mesmo que de delitos parcos. Muitos achariam normal, como tantas vezes já vi, observarem "vingadores" fazerem atrocidades e uma multidão dar likes e comentar que mereceu. Nunca, jamais, ninguém merece tal tratamento, mas muita gente acredita que alguns, devido à alguns de seus comportamentos, merecem e é bem pouco.

Contudo, o caso a comentar dessa terrível tragédia não é a hipocrisia e comoção seletiva das pessoas, mas as manifestações de vozes que buscaram justificativas grotescas para que o caso não tomasse, como febre, as páginas de jornais, as hashtags com o nome de Rhuan, ou que seu rosto estivesse estampado em todos os perfis! "Afinal, fizeram isso quando um cachorro foi assassinado" foi o que vi por muitos cantos... 

E claro, algumas pessoas não podiam perder a oportunidade de usar o trágico fato para depreciar o Todo em face do Particular. Vamos primeiro ao particular: Rhuan assassinado no dia 31 de maio por sua mãe que teve como cúmplice nos crimes, sua companheira e à crueldade criminosa das duas acrescenta-se ainda, denúncias sobre tortura e mutilação da criança em anos anteriores ao fatal crime. O caso foi tratado de modo simplista quanto a motivação: Rhuan não estampou as manchetes e não tomou as redes sociais por ser mais um caso de evidência da "esquerda" (o universal) ser protegida! De proteger-se a população LGBTT pois as "mães" do garoto, homossexuais, não deveriam ser expostas para proteger "as pautas da esquerda". A pequenez do raciocínio me deixou tão estarrecida quanto a crueldade das duas mulheres.
Imaginem as sinapses se fazendo na cabeça dos que assim argumentaram... "mãe sapatão, odeia hômi, ah é feminista, cortou o pipiu do menino e matou ele porque são feminista, de esquerda e porque o mundo é de esquerda a mídia não vai falar disso pra proteger a esquerda". Pior é que se dá pra chamar isso de raciocínio, tanta gente achou de falar do caso do Rhuan, dar a visibilidade que a "mídia esquerdizada" não deu, reprodizindo esse raciocínio! 

Não vi comentários acerca da pouca veiculação das reportagens que buscavam motivações para o crime irem além de reprodução do preconceito contra a esquerda e contra homossexuais, como se todos povos do mundo, de esquerda e também homossexuais, fossem capazes de um crime assim ou o aceitasse e aceitassem que duas mulheres que fazem isso, merecem redenção por serem homossexuais. E claro, a reprodução desse preconceito odioso, não é nem de longe tão dolorido, não abre em mim uma chaga tão grande quanto pensar num garotinho ser tão maltratado assim por duas pessoas inescrupulosas, fanáticas em seus delírios (Particular) e que não representam o Todo! 

Quando soube do caso Rhuan, busquei ler sobre o assunto e me deparei com uma coisa tão assustadora como a morte do garoto, que foi a data do fato e que mais de uma semana depois é que tomei conhecimento. Me perguntando o motivo, meu raciocínio, talvez não correto, e talvez alguns ao lerem se questionarão se de fato é um raciocínio, levou-me, imediatamente, ao que no dia seguinte ao assassinato de Rhuan vi em tudo quanto é meio de comunicação: a acusação de estupro que pesava sobre o jogador de futebol Neymar. E via piadinhas, fotos vazadas, frases sem nexo e pessoas rindo disso... E via julgamentos, advogados de defesa e de acusação... e pessoas rindo disso! E pessoas e mais pessoas envolvidas no caso de uma "grande estrela" sendo acusada de um crime e o reboliço que tudo isso causou... e via esse assunto tomando tudo que é espaço, real ou virtual... e mais julgamentos, mais culpabilização da mulher, mais propagação de machismo patriarcal, mais pessoas acusando a suposta vítima e mais pessoas defendendo o suposto agressor, Neymar. Às vezes até imaginava que as pessoas, gigantesca maioria em defesa do jogador, estavam lá, junto com ele e a garota no quarto, tanto que partido tomavam em afirmar que ela estava com as intenções piores... e nas semanas seguintes, o que tomou os jornais e as redes sociais girava em torno desse assunto, uns agradeceram a ele, pois assim, o governo Bolsonaro ficou escamoteado, até pelo menos, o vazamento das informações jornalísticas do Intercept nesse último final de semana.

Daí podem pensar comigo... se aqui, onde eu queria tratar do caso Rhuan, uma criança pobre, vítima de maus tratos, tortura, assassinato e vilipendiação de cadáver, pelo menos outras três figuras públicas apareceram imaginem nas proporções daqueles tarados por redes sociais e notícias bombásticas... imaginem pessoas que gostam de vazar tudo que é intimidade de celebridade, de comentar, de participar da vida de tais pessoas por mais medíocre que isso seja? Gente, o povo vazou foto do Cristiano Araujo nu, morto no necrotério! O povo vazou foto do cadáver do Gabriel Diniz! o povo vaza foto de tudo que é notícia de celebridades e concorrer com isso, mídia nenhuma é capaz! E mais uma vez, nomes de "celebridades" tomam essas páginas em detrimento do nome de Rhuan! E assim caminharemos. Pra quem tem tara sobre a vida alheia, um garoto ser assassiando e esquartejado é muito menos notícia e muito menos digno de voz do que um jogador de futebol famoso, rico acusado de estupro! E isso se deve não à esquerda escamotear o fato por conta da orientação sexual da mãe, mas sim, à propensão que temos em tomar partido de quem é grande e dá visibilidade e likes!

O cachorro do Carrefour virou nóticia porque não houve nenhum fato medíocre ou bombástico invadindo o espaço... não houve especulação sobre a vida de algúem rico, importante, só o básico e corriqueiro... aí um passarinho  de qualquer artista que fosse atropelado viraria notícia e alguém produziria a comoção em massa. Alguém sugeriria a hashtag, "alguéns" tantos outros seguiriam a onda pra ficar famosinho... e convenhamos, infelizmente uma hashtag "alguma coisa neymar" faz infinitamente mais sucesso que uma  #rhuanvive. 


Ps. Lendo notícias acerca do processo, o delegado que investiga o caso comentou forte influência de fanatismo religioso na mãe. Ah de religião Cristã, inclusive! vão dizer que é um ataque à fé ou entender que nem todo mundo é um fanático religioso que distorce o que dizem as escrituras?



terça-feira, 7 de novembro de 2017

Quem nunquinha quis ser menino?

Quando eu era criança, tinha cabelo de menino. Hoje chamam corte Joãozinho e já foi moda entre as celebridades. No início dos anos 90, não era!
Mamãe gostava daquele jeito e dizia: "quando você crescer e conseguir cuidar do seu cabelo, deixa grande, sem pentear, curto, preso, com piolho, do jeito que você quiser".
Não que eu gostasse... Contudo, via as vantagens que aquele cabelo me trazia, pois facilitava o passe para muitas brincadeiras e jogos "de menino", sobretudo em locais em que os meninos não me conheciam! Jogos e brincadeiras dos quais nunca fui proibida nem pela mamãe ou pelo papai de fazer.

Gostava e me identificava com a "liberdade" que os meninos tinham e quando chegava num espaço diferente, com crianças diferentes e via as meninas brincando e os meninos brincando, sempre achava mais atraente a brincadeira dos meninos. Talvez fosse já pelo medo da rejeição das meninas quanto ao meu cabelo. Mas talvez fosse por perceber que as brincadeiras "de menino" eram mais divertidas mesmo. Afinal, correr atrás um do outro, chutar coisas, ver quem subia mais rápido no trepa trepa, atravessava mais rápido a escada horizontal ou quem não saía tonto do gira-gira rodado à toda velocidade, construir fazendas e "dirigir caminhão", sempre me parecia mais divertido do que brincar de salão de beleza imaginário, passar anel, boneca, casinha, cozinhadinha etc. embora também brincasse disso, sabendo hoje que num tempo muito mais curto, pois lembro que rapidinho já não queria mais.
Lembro de uma alegria bonita quando num Natal ganhei uma bola e minha irmã, mais nova um pouquinho que eu, ganhou uma boneca com cheiro de fruta. Como fui feliz com meu presente! Não entendia, mas sentia-me mais livre e sem a preocupação de manter o cheirinho da boneca.


Recordo-me que uma vez, numa festa junina entrei na fila pra subir no pau de sebo e pegar a prenda... eu estava de roupa rosa, um rosa chock que eu gostava e capaz que isso me entregou! Um menino falou no meio dos outros que uma menina queria subir: todos me observaram, analisaram e passaram na minha frente na fila me deixando por último. Deixei a fila e fui pra barraca de pescaria. Aprendi ali algumas lições... Ali entendi que me identificava com parte do que era divertido no universo masculino, mas que nele, não me cabia. Entretanto, fazer parte das brincadeiras, achar -me "menino" muitas das vezes quando brincava com a molecada me deixava satisfeita. Outras vezes, me deixava chateada por muitos que me conheciam me julgarem e, ignorantemente, me chamarem "macho-fêmea"! Não sabiam o que eu sentia. Não sabiam que internamente, muitas vezes me identificava com o masculino...

Pra que toda essa memória? Pra "bocozada de mola" que hoje me conhece saber que em alguns momentos da vida me identifiquei com o gênero masculino, brinquei com menino, joguei bola, brinquei de carrinho, apertei campainha, subi e pulei muro, fiz competição de cuspe, perdi na distância de mijo e isso não mudou em nada minha vida a não ser ampliar minhas vivências e me fazer perceber as diferenças entre gênero masculino e feminino, sejam biológicas ou sócio-culturais.
Atualmente muito se fala em "ideologia de gênero" - sem saber o que é isso - e em a escola querer ensinar as crianças a virarem homossexuais - sem conhecer escola. Queria saber de onde esse povo tira isso! Aliás, eu sei de onde tiram...


Só não consigo acreditar que as pessoas não são capazes de perceber que falar sobre o que existe e da necessidade de respeitar cada um em sua identidade de gênero e também em orientação sexual não é "criar" homossexuais. Não acredito que as pessoas, inclusive que se autodeclaram educadores, não são capazes de perceber que estar com meninx, brincar com meninx, fazer coisas de meninx, identificar-se com o universo infantil masculino ou feminino, por dias, por um período ou pela vida toda, não altera em nada a orientação sexual.



Me é custoso entender ainda como muitas pessoas não são capazes de perceber que a pessoa já se encontra afetivamente ligada a um indivíduo do mesmo sexo, se vencer o preconceito, a discriminação, a intolerância causada pela heteronormatividade e não for assassinada por homofóbicos, poderá ter o direito de viver intensamente suas relações homoafetivas.














segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

GOIÂNIA PARA TURISTAS I

O QUE FAZER EM GOIÂNIA - PONTOS TURÍSTICOS: Praça Cívica.

Hoje pela manhã me deparei com uma matéria escrita ainda em 2014 sobre Goiânia. Uma turista de passagem pela cidade narra sua dificuldade para encontrar os pontos turísticos da capital goianiense e eu, como uma boa goianiense do pé rachado, não me irritei em nada com as verdades que a moça diz. Ela não inventou nada em seu relato. A intenção deste e dos posts a seguir é oferecer algumas dicas para quem procura pelo que fazer na cidade, em passeios turísticos e sem maiores badalações. Não conheço nada das baladas da cidade (risos).

Em 1933 foi lançada a pedra fundamental para a construção da cidade de Goiânia, estrategicamente planejada para tornar-se capital administrativa e política do Estado de Goiás. 
É difícil falar de Goiânia e seus pontos turísticos, sem mencionar aspectos históricos, politiqueiros e eleitoreiros da capital, contudo o exercício será feito. E vou riscar pra indicar onde estiver, caso não queiras ler, risos. 

Parte do patrimônio arquitetônico do Centro da cidade é "preservado", evidenciando uma arquitetura com influências da Art Deco que estampa fachadas de construções datadas, principalmente, da década de 1930 e 1940. Por  vezes algumas já foram demolidas e/ou abandonadas, e por variantes inúmeras, reconstruídas e/ou restauradas. Algumas edificações são consideradas cartões postais da cidade, com rica carga histórica e política , e claro, foram transformadas em pontos turísticos da Capital.

Nesse primeiro tour trataremos da Praça Cívica, oficialmente, Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, onde a pedra fundamental da cidade foi lançada e de onde saem as principais avenidas do Centro da cidade: Av. 85, Rua 83, Av. Tocantins, Av. Goiás, Av. Araguaia, Rua Dona Gercina Borges Teixeira, Rua 10 - Av. Universitária e importa citá-las por serem vias de acesso à outros pontos turísticos da cidade...

Distante entre 9 a 10 km do aeroporto e a 2,5 km do Terminal Rodoviário, no Centro, está a Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, mas se for perguntar a algum goianiense, pergunte pela Praça Cívica! Muitos de nós conhecemos as coisas por denominações diferentes das oficiais e a moça que inspirou essa série de postagens, falou bem sobre isso... Na Praça Cívica há um concentrado de edificações Art Deco: Coreto, Palácio das Esmeraldas - residência oficial do governador -, Procuradoria Geral do Estado, Tribunal de Contas do Estado, Centro Cultural Marieta Telles Machado - que abriga o Cine Cultura e o Museu da Imagem e do Som - o Museu Zoroastro Artiaga, etc., além de esculturas - o Monumento à Goiânia, conhecido mais como Monumento das Três Raças é o de maior destaque, ocupando o centro da praça - e fontes luminosas, restauradas e postas em funcionamento como no projeto original da década de 1930 na última "reforma" da Praça Cívica, (re)inaugurada em outubro de 2015 e finalizada quase um ano depois, sim, em Goiânia e no Goiás inteiro tem disso, os caras inauguram obras inacabadas. E pelo que indica algumas pesquisas rápidas, em breve o governo estadual vai também dar uma "revitalizada" na praça novamente...

A Praça Cívica ainda abriga no decorrer do ano festividades e exposições diversas, chegando a grande público no Show de Natal, em que, a Praça é transformada em palco de festividades natalinas, ecoando uma deliciosa algazarra com sons de carrossel, risos dos infantes e aquele cheirinho de pipoca inebriando o ambiente. Aos domingos, desde 2014 a pista do anel interno da Praça é fechado aos automóveis, abrindo espaço para o ciclismo e o skate.

Além de conhecer e fotografar, na Praça Cívica é possível visitar (se tiver aberto, risos):

No Centro Cultural Marieta Telles Machado:

* Cine Cultura: com programação especial, filmes bastante premiados e mais distantes da pegada comercial, sedia alguns festivais de tempos em tempos. Sessões e programação com filmes vespertinos (durante a semana) e noturnos aos fins de semana e feriados. Programe-se pelo site: https://cineculturagoias.wordpress.com/
* Museu da Imagem e do Som: Particularmente não conheço, visitas agendadas. Conforme site da Secult horário de funcionamento nas segundas é das 14h as 17:30 e terça a sexta das 8h as 12h e das 14 as 17:30. Para consulta ao banco de dados e acervo fotográfico e fonográfico, visitas devem ser agendadas previamente.Telefones (62) 32314644 - 32014673. Maiores informações: http://www.secult.go.gov.br/post/ver/139327/museu-da-imagem-e-do-som-de-goias

Museu Zoroastro Artiaga: Estive em duas ocasiões querendo conhecer o museu, mas estava fechado mesmo sendo dia e horário de funcionar.

Funcionamento: Terça a sexta, das 8h as 18h; sábados, domingos, feriados das 9h as 15h. Maiores informações: http://www.secult.go.gov.br/post/ver/139325/museu-zoroastro-artiaga


                                  Palácio das Esmeraldas, residência oficial do governador


                                                             
                                                       Centro Cultural Marieta Telles




Museu Zoroastro Artiaga













Antiga "Chefatura de Polícia" - Cadeia














Coreto

Escultura em bronze de Pedro Ludovico Teixeira, arquiteto de Goiânia, esculpida por Neusa Moraes.












Escultura Monumento à Goiânia - "Monumento das Três Raças" - esculpido em bronze e granito por Neusa Moraes.










quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A FALÁCIA DA ESCOLA SEM PARTIDO

Pra começar, o termo ESCOLA SEM PARTIDO é mal intencionado e os que o concebem sabem bem disso. Talvez não saibam aqueles que reproduzem-no, que ouvem defesas mal intencionadas dos que enfrentam uma escola que, de fato ruma para ser o que escola deve ser: promotora de conhecimentos sistematizados, promotora de debate e passível de contribuir para a reflexão a cerca das estruturas da sociedade, para a consolidação da autonomia e da liberdade, abafadas pelo capital.

A prática pedagógica é em si uma prática social política. Não é necessariamente partidária, mas não é apolítica. E no quadro de uma prática social política, colocar a par dos acontecimentos em diferentes perspectivas e frentes é fazer educação.

Sabendo do caráter apolítico da prática pedagógica aqueles que querem frear os avanços que temos feito na educação criou-se toda uma mídia que vem conseguindo convencer cada vez mais pessoas que "há uma ditadura de esquerda no ensino público e que as nossas criancinhas estão sendo corrompidas por uma escola psicopata, sem valores, amoral e esquerdista"...

Vamos por partes... Politicamente, compreendo o poder da Pedagogia Crítica nos avanços que temos e não dá pra explicar isso sem falar sobre luta de classes e ensino público. O ensino público no Brasil, a escolarização para a classe popular, começa a receber investimentos no início do século XX em virtude da necessidade de formação de mão de obra, de força de trabalho. Nesse sentido, temos uma prática pedagógica já repleta de interesse político/econômico: formar trabalhadores para o mercado de trabalho, para tanto uma prática pedagógica que introduziria e faria incorporar técnicas a serem aplicados no mercado de trabalho. Uma educação voltada ao fazer irrefletido e que é considerada pela parte detentora dos meios de produção, essencial, portanto, nada apolítica, nada apartidária. Assim, a educação, da forma como se processa, tem estado a serviço, digamos, de um partido, um partido da classe detentora dos meios de produção que necessita manter a estrutura da sociedade, precisa forjar trabalhadores que pouco reflitam sobre questões para além de conteúdos mecanizados, fragmentados e instrumentalizados.
E, vendo se processar uma perspectiva educacional crítica, progressista, voltada a levar a classe trabalhadora a ir além do que a classe burguesa considera necessário para formar suas "máquinas", a burguesia viabiliza seu projeto de manutenção da estrutura de exploração de força de trabalho que reproduz seus interesses, dentre outras maneiras, "criando" um projeto, uma prática pedagógica baseada na falácia de neutralidade política, A FALÁCIA DA ESCOLA SEM PARTIDO. E pior, pelos meios mais vis e promotores de ódio convence parte da sociedade que a escola precisa conservar uma neutralidade que nunca foi sua.

Conforme Saviani (1983) a escola é um instrumento de reprodução das relações sociais e, reproduzindo a sociedade capitalista, reproduz a dominação e exploração característicos dessa sociedade, apresentando-se como tendente à conservar o antagonismo de classe. Contudo, o filósofo pontua que uma educação que se baseie em uma sólida fundamentação teórica para a compreensão da realidade social, é capaz de transformar as bases da sociedade, formando o homem para “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens” (SAVIANI, 1980, p. 52). Para tanto, ainda segundo o filósofo, a escola deve possibilitar a formação do homem livre, democrático e autônomo, exatamente o que não é efetivado numa sociedade pautada pelo capital e numa escola que atenda aos interesses da classe burguesa. 

Para isso, não se pode processar apenas um ponto de vista, furtar-se do debate e da liberdade de ideias baseadas no conhecimento historicamente construído pela espécie humana, não se pode negligenciar ponderar o pensamento conservador e o progressista. No contexto da Escola sem partido, professor que em sala de aula, ponderar as coisas, elevar o contraditório, instigar ao pensamento dialético, emitir seu pensamento e ter formação capaz de levar o estudante a ser além de uma máquina reprodutiva dos 'valores' da sociedade burguesa e que faça frente à conservação da sociedade capitalista, é tomado como tendencioso e promotor de uma escola partidarista, gravemente promotor da "doutrinação esquerdista". Contudo, aquele que não o faz, promove para nós aqui, a manutenção de uma sociedade que inventa um ensino neutro numa escola que não é e nunca foi neutra, apolítica e muito menos, apartidária...


Para informações sobre o assunto: http://www.anped.org.br/search/node/ESCOLA%20SEM%20PARTIDO